Desde que o vanguardista francês Marcel Duchamp revolucionou a história da arte com a obra “A Fonte” (1916) e o seu ready-to-made – que questionava o status da arte ao apropriar-se de objetos ordinários, retirando seu utilitarismo e os colocando em locais que os validavam enquanto obras de arte – os limites estabelecidos passaram a ser, cada vez mais, tensionados. A arte contemporânea é a prova disso. Nesta quarta-feira (20), a obra conceitual “Comedian” (comediante, em português), de Maurizio Cattelan, que consiste em uma banana colada à parede com fita adesiva, foi leiloada por R$ 35,8 milhões.
O leilão, na tradicional Sothebys, em Nova York, durou apenas cinco minutos, tornando a banana a fruta mais cara já comercializada. O investidor em criptomoedas chinês Justin Sun é o novo dono de uma das obras mais controversas da arte contemporânea. Para Sun, a obra representa um “fenômeno cultural que conecta o mundo da arte, dos memes e da comunidade de criptomoedas”, disse ao The New York Times.
A obra contém um manual de como realizar a troca da banana, quando esta estiver deteriorada, e um certificado de autenticidade. O vencedor do leilão afirmou que irá comer a banana presente na obra “como parte desta única experiência artística, honrando seu lugar na história da arte e na cultura popular”, afirmou Sun.
Essa não foi a primeira vez, no entanto, que a arte contemporânea foi irreverente – seja por seus artistas ou por seus admiradores –. Em 2018, o artista britânico Banksy chocou o mundo quando a sua obra “Girl With Balloon” (garota com o balão) se autodestruiu no momento em que foi leiloada, na Sotheby’s de Londres, por aproximadamente R$ 5 milhões à época. Um cortador de papéis instalado na moldura fez com que a obra ficasse parcialmente destruída.
Após o incidente, a obra foi rebatizada como “Love is in the bin” (O amor está na lixeira). Na época, o artista declarou que a autodestruição não foi combinada com a casa de leilões e ainda ironizou a ação nas redes sociais. Em 2021,a obra parcialmente destruída foi leiloada mais uma vez e atingiu um recorde pessoal para Banksy, por R$ 140 milhões.
Uma década atrás, a também britânica Tracey Emin teve a obra “My Bed” (Minha cama), leiloada. A instalação, de 1998, causou controvérsia ao ser exibida pela primeira na Tate Gallery, em Londres, em 1999. A composição consiste em uma cama com lençóis sujos, camisinhas, bebidas e testes de gravidez jogados, representando um tempo depressivo, embora sexual da artista e questionando a saúde mental e a realidade íntima feminina. Foto de Comedian: Justin Lane/EPA, via Shutterstock
Por Ian Reis