Este ano, pela primeira vez, o Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, celebrado no dia 20 de novembro, será feriado nacional. É um passo importante para manter viva a memória de resistência afro-brasileira e, assim, continuar caminhando rumo ao fim do racismo.
E para reforçar esse caminho, é essencial também valorizar o trabalho de pessoas negras. No universo da literatura, por exemplo, existem milhares de mundos prontos para ser visitados, plurais, diversos e de excelência.
Por isso, separamos aqui 12 autores negros para adicionar à sua biblioteca, um para cada mês do ano, da literatura acadêmica à fantasia. Para cada autor, recomendamos um livro, mas fique ligado também nas outras obras deles, que têm muito mais coisa boa – fica a dica.
Luciany Aparecida – Mata Doce: Finalista do Prêmio Jabuti pela primeira vez este ano com o romance “Mata Doce” (Alfaguara), Luciany Aparecida escreve romances, contos, poemas e dramaturgias, além de ser doutora em Letras, professora e pesquisadora. Na sua obra, aparecem temas como identidade, violência e pertencimento. Mata Doce é um grande exemplo: no livro, primeiro romance que assina com o próprio nome, a autora do Vale do Rio Jiquiriçá une passado e presente ao narrar os acontecimentos trágicos que permeiam um pequeno vilarejo no interior da Bahia e questionar o modo como se enxerga no mundo.
Itamar Vieira Júnior – Chupim: Natural de Salvador, Itamar Vieira Júnior é uma sensação. Vencedor do Jabuti em 2021 (além de prêmios como o Leya e o Oceanos), e finalista este ano com Salvar o Fogo, o autor ultrapassou no último mês a marca de um milhão de títulos vendidos. Mestre em Teoria e História Literária e doutor em Letras, ele fez sua estreia há poucos meses no mundo da literatura infantil com o livro “Chupim” (Baião), ao lado da artista plástica Manuela Navas. Na obra, ambientada no mesmo universo que Torto Arado, o autor guia o público em uma viagem pela vida do trabalhador do campo numa prosa cheia de lirismo e críticas sociais, a partir da perspectiva de uma criança, o protagonista Julim.
Conceição Evaristo – Canção para ninar menino grande: Um dos maiores nomes da literatura brasileira, Conceição Evaristo cunhou o termo “escrevivência”, que remete a uma escrita de testemunho e denúncia, baseada na própria vivência – que, assim, fala da vivência do coletivo. A obra de Evaristo, premiadíssima, resgata a ancestralidade e a esperança pela liberdade. Em “Canção para ninar menino grande” (Pallas), a autora fala de masculinidade e como ela se apresenta nas relações entre homens negros e mulheres negras, a partir do comportamento do protagonista Fio Jasmim, um trabalhador ferroviário que se envolve com uma mulher a cada cidade em que para.
Roberta Gurriti – Entrevistando Você: Formada em jornalismo, a baiana Roberta Gurriti, de apenas 21 anos, é colunista da revista Capricho e do portal iBahia, e produz conteúdo literário para as redes sociais desde 2019. Lançou sua primeira antologia, “Desejos de Natal”, em 2022, e, este ano, publicou o primeiro romance, “Entrevistando Você” (Qualis). Nele, a obstinada Naomi Castro, uma apresentadora que sonha com uma carreira no entretenimento, consegue a oportunidade de entrevistar um astro do cinema conhecido por evitar a mídia, ao ser a única capaz de atender a exigência dele para conceder a exclusiva: que todas as conversas sejam conduzidas em suaíli, sua língua materna africana.
Jovina Souza – Estampas do Abismo: Graduada em Letras Vernáculas, a autora feirense Jovina Souza passeia entre poesia, contos e textos acadêmicos. Em sua obra, assim como nos projetos que propõe como professora, denuncia injustiças sociais e busca elevar a autoestima de jovens negros e negras. Em “Estampas do Abismo”, publicado em agosto de 2023 pela Editora Malê, conduz os leitores a uma afirmação da vida através dos versos e estrofes. Ao longo dos poemas, olha para os abismos que ressurgem em cada esquina do viver contemporâneo e se afasta deles.
Marcelo D’Salete – Mukanda Tiodora: Quadrinista, ilustrador e professor. Este é Marcelo D’Salete, autor nascido em São Bernardo dos Campos, São Paulo. Nos últimos dez anos, lançou quatro obras, em que aborda a história negra em forma de quadrinhos. Por elas, recebeu 14 indicações a prêmios e ganhou o Jabuti em 2018 com “Angola Janga”, sua terceira publicação. A mais recente, “Mukanda Tiodora” (Editora Veneta), traz a São Paulo da década de 1860 a partir da experiência de uma mulher negra escravizada, inspirada em fatos reais. Premiado com o Grampo de Ouro 2023, o livro conta com textos das historiadoras Cristina Wissenbach e Silvana Jeha, uma cronologia da luta abolicionista em São Paulo e, pela primeira vez, a reprodução integral das cartas de Tiodora.
Crislane Rosa – “Beije sua preta em praça pública”: da apropriação do corpo à apropriação do espaço: Baiana, Crislane Rosa é mestre e doutora em Geografia pela UFBA e se dedica a pesquisar a relação entre raça, gênero, classe e território. “Beije sua preta em praça pública”, publicado pela Edufba em 2023, foi resultado de sua tese de mestrado. No livro, Crislane analisa como esses elementos moldam as dinâmicas estabelecidas nos espaços geográficos da cidade. Faz isso a partir de reflexões teóricas e relatos de pessoas que frequentam duas praças de Salvador localizadas em lugares com diferentes perfis socioeconômicos.
Denise Carrascosa – Corpo de vento: Exu da teoria: Professora, doutora em Crítica Literária e Cultural, advogada, escritora e tradutora, Denise Carrascosa é tudo isso e mais um pouco. Filha de Oyá, nasceu em Salvador e atualmente coordena o programa “Corpos Indóceis, Mentes Livres”, finalista na categoria “Fomento à Leitura” do Prêmio Jabuti. Esse programa, por meio de oficinas e aulas, leva leitura e dignidade para mulheres encarceradas, possibilitando a remição de suas penas. Este ano, Denise lançou pela Edufba o livro “Corpo de vento: Exu da teoria”, no qual reflete sobre temas como “a crise da representação”, pós-colonialidade, pós-escravismo, performances, racismo e direitos humanos.
Bia Barreto – Afrobeto e Caligrafia Afrobetizada: Formada em Educação Física, mestre em Educação e doutoranda em Dança, Bia Barreto faz jus ao título de educadora. Em sala de aula, ao perceber que os alunos desconheciam a riqueza da cultura africana, desenvolveu o “afrobeto”: para cada letra do alfabeto, uma referência a um elemento da cultura afrodescendente. O “A” de amora se torna “A” de acarajé e atabaque, por exemplo. Os resultados apareceram rapidamente, com os estudantes mais animados para aprender. Com o projeto, que se transformou no livreto “Afrobeto e Caligrafia Afrobetizada”, Bia foi finalista do Prêmio Educador Transformador do Sebrae.
Lu Ain-Zaila – Sankofia: breves histórias afrofuturistas: Luciene Marcelino Ernesto, mais conhecida como Lu Ain-Zaila, é escritora, pedagoga e ativista. Em sua obra, a autora carioca se dedica ao afrofuturismo, criando narrativas de ficção científica protagonizadas por pessoas negras. “Sankofia”, lançado de forma independente em 2018, é uma coletânea que traz 12 contos com temas diversos, abrangendo desde o terror até a fantasia, incluindo mitologia africana e histórias com alienígenas. Nessa obra, a autora reflete sobre o futuro com base na ancestralidade.
Bolu Babalola – Amor Em Cores: Histórias inspiradas em mitologias ao redor do mundo: A autora nigeriana-britânica Bolu Babalola é uma excelente escolha para quem busca uma leitura leve e envolvente. Formada em Direito e mestre em Política Americana e História, Bolu encontrou seu verdadeiro espaço no mundo da literatura e das comédias românticas. Com o livro “Pimenta e Mel” (Harlequin), venceu o TikTok Awards, um prêmio literário. “Amor Em Cores: Histórias inspiradas em mitologias ao redor do mundo”, uma antologia que chegou ao Brasil em 2022, apresenta histórias de amor de diversas culturas, indo de mitos negros e iorubás a relatos antigos do Oriente Médio, todos atualizados para os dias de hoje. Ao longo das 320 páginas, encontramos seres mitológicos em situações cotidianas, como Cupido trabalhando em um cargo de relações públicas.