A Bahia Marina está com um novo empreendimento gastronômico. Desde o mês passado, o Leto passou a ocupar o espaço onde até agosto último funcionou o Macelleria Quitéria. A nova casa, com capacidade para até pouco mais de 100 pessoas sentadas, é uma extensão do The Latvian, o lounge corporativo que funciona contíguo ao novo restaurante que passou por uma repaginação e ressurgiu como uma nova opção na cena local. Além da mudança na decoração, que ganhou um toque mais formal, o cardápio também sofreu grandes alterações.
Na verdade, o novo comandante da cozinha manteve apenas quatro dos cortes mais pedidos do cardápio do Macelleria – que tinha na parrilha sua maior vocação – e incorporou novas criações que mistura sotaques: um “pouquito” meio mexicano, mais um bocadinho meio mediterrâneo, um toquezinho meio asiático… Coisas da agora festejada (pelos chefs) cozinha contemporânea. Nada contra. Até porque o mestre do fogão é o talentoso chef Raphael Sepúlveda que há três anos está à frente do Yolo, no Santo Antônio Além do Carmo.
Para além do resto-bar do Museu do Mar – Aleixo Belov, que tem um cardápio de comidinhas de responsa – o chef itabunense que já morou em Dubai, sabe o que está fazendo. Não á toa, vem despontando na cena gastronômica baiana como um dos talentos da sua geração.
Daí porque a Tostada de Atum é uma das boas surpresas do menu de entradinhas. A porção, com duas unidades, se apresenta como uma tortilha crocante que serve de base para a “cobertura” que tem straciatella, tartare de atum, gel de abacate com pimenta doce, pistache, gergelim e brotos. Um primor refrescante!
Outro destaque do menu de entradas é a Burrata Mediterrânea, que tem como único defeito, o tamanho. Mas o chef não engana ninguém, tá lá a descrição embaixo: “burratinha”. Pequena, mas bem acompanhada. Vem com tomate braseado, molho romesco e uma surpreendente e gostosa farofinha de aliche.
Como sou de testar o talento (e a paciência) dos chefs até a exaustão (neste caso, a minha, é claro), quis seguir na “beliscação” (sic) e experimentar o Dumpling de Camarão. E vou dizer uma coisa: a massa recheada de camarão e cozida no vapor, estava no ponto; já o molho de leite de coco ao estilo tailandês, com furikake (um tempero muito popular no Japão que é utilizado para ser polvilhado sobre o arroz), azeite de ervas e broto de coentro, é um espetáculo! A ponto de ter pedido ao garçom que me trouxesse uma colher para tomar todo o caldo que, garanto, é de enlouquecer de bom!
Talvez por isso não tenha me animado tanto com o Polvo à Putanesca, preparado na brasa e acompanhado de massa. Ali, o que me fez feliz mesmo foi o clássico molho italiano que estava tão delicioso que o elegeria como o protagonista do prato.
Para fechar a experiência aceitei a sugestão do chef para provar a Terrine de cordeiro que, ao contrário do que eu imaginava, não é propriamente aquela clássica receita da culinária francesa, mas uma paleta de cordeiro assada e prensada, levemente grelhada, servida com sua redução, mousseline de couve-flor com castanhas (muito interessante), gremolata de pistache e cebola brullè.
Não chegou a frustrar às minhas expectativas. Até porque não estava mal executado, mas para um sertanejo-raiz como eu, que tem paixão por caprinos, da próxima vez, vou apostar num dos cortes nobres preparados na parrilha. Ou talvez experimentar a lasanheta de ossobuco, um dos outros pratos autorais do chef que me deixou curioso.
Se vale a visita? Vale muito, especialmente se for acompanhada dos drinques especialíssimos do mixologista Abel Moreira que faz o mundo ficar mais bonito com o seu Sagrado Profano, ou a vida se tornar cor de rosa com o Maria Quitéria. Eu vi as duas coisas. E confesso: gostei muito do que vi!
SERVIÇO:
@letogastronomia
Avenida Lafayete Coutinho, 1010, loja 33. Bahia Marina.
Reservas: 71 99201 7267