Marcelo Rubens Paiva é um daqueles escritores cujo talento ultrapassa gerações e tem a capacidade de se conectar e abordar públicos e temáticas diversas. O autor estreou em 1982, com o biográfico “Feliz Ano Velho”, vencedor do prêmio Jabuti, além de ter sido o livro mais vendido nos anos 80. Mais de 40 anos depois, em 2024, Paiva retorna ao número 1, com o lançamento do filme “Ainda Estou Aqui”, dirigido por Walter Salles, inspirado na obra homônima e também biográfica de Paiva. Na semana de estreia, o filme arrecadou mais de R$11 milhões, indo para o pódio da bilheteria no Brasil. O livro chegou ao topo dos mais vendidos na Amazon.
Como mostrado em “Ainda Estou Aqui”, Marcelo, nascido em 1959, é filho de Eunice e Rubens Paiva. Seu pai, ex-deputado federal, foi cassado e exilado pela ditadura militar. Ao voltar ao Brasil, mudou-se com a família para o Rio de Janeiro, deixando São Paulo, e acabou sendo sequestrado pelos militares. Este desaparecimento levou Eunice a se tornar uma ativista pelos direitos humanos. Tanto o filme quanto o livro são uma ode à força e resistência de Eunice.
As chagas instauradas pela ditadura na família Rubens Paiva também são retratadas em “Feliz Ano Velho”. Mais centralizado em Marcelo e no acidente que o deixou tetraplégico, aos 20. O livro também fala sobre o desaparecimento do pai e do cenário político e social do país durante os trágicos anos em que os militares estiveram no poder. O sucesso de “Feliz Ano Velho”, lançado à luz da redemocratização do país, pode ser justificado pela honestidade do relato e pela identificação que os leitores tinham. Em 1987, o livro também virou filme, estrelado por Malu Mader e Marcos Breda, com direção de Roberto Gervitz.
Para além destas duas obras de absoluto sucesso, Marcelo Rubens Paiva escreveu mais de uma dezena de livros. Foi colunista na Folha de S. Paulo, dirigiu e adaptou diversas peças de teatro e também foi roteirista no cinema, tendo colaborado em Ainda Estou Aqui. Na TV Globo, escreveu episódios do seriado Sexo Frágil, e para um quadro do Zorra Total e depois do Fantástico com Pedro Cardoso.
Por Ian Reis