A Sexta-Feira Santa, parte do tríduo pascal, celebra a paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo, conforme a tradição da Igreja Católica. A data, que varia a cada ano, está vinculada ao período da Festa de Pessach (Páscoa Judaica) mencionada nos evangelhos cristãos. A doutora em Teologia, Ana Beatriz Dias Pinto, explica que essa festividade já era praticada pelos judeus antes do cristianismo e ocorre no sábado e domingo de lua cheia após o início da primavera no hemisfério norte.
Segundo Ana Beatriz, quando Jesus foi sentenciado à morte, a crucificação foi antecipada para não interferir nas celebrações judaicas. A data em que Jesus foi morto coincidiu com os preparativos da Festa de Pessach, tradicionalmente marcada pelo sacrifício de um cordeiro, em memória da proteção das casas dos judeus durante a décima praga no Egito.
Os evangelhos, especialmente o de João e as Cartas de São Paulo, interpretam a morte de Cristo como o cumprimento das escrituras. A teóloga ressalta que o sacrifício de Jesus introduziu uma nova religião, representando a transição de uma libertação física para uma liberdade espiritual.
Na liturgia da Sexta-Feira Santa, a eucaristia não é celebrada, simbolizando o luto pela morte de Cristo. Durante a missa, ocorre o momento de adoração à cruz, lembrando o sacrifício de Jesus pela redenção dos pecados. Ana Beatriz explica que as manifestações de devoção variam entre culturas, com práticas como beijar ou reverenciar a cruz.
Além disso, a Via Sacra é tradicionalmente encenada em diversas cidades para lembrar os passos de Jesus até sua morte. O tom da celebração é de silêncio, austeridade e contemplação, ressaltando a morte do líder máximo do cristianismo.
No Brasil, a Sexta-Feira Santa é feriado religioso desde a chegada dos portugueses e, mesmo o país sendo laico, a data é mantida por sua relevância cultural e religiosa. A Lei 9.093/1995 garante que o feriado continue, em respeito às tradições da população.
Além do cristianismo, outras religiões no Brasil também celebram a Páscoa com significados próprios. Religiões de matriz africana, como Umbanda e Candomblé, associam a data ao renascimento espiritual, celebrando Oxalá, orixá sincretizado com Jesus Cristo. A teóloga também observa variações dentro do cristianismo, como na doutrina espírita, onde a ressurreição de Cristo é vista como um símbolo de evolução espiritual.
Ana Beatriz encerra destacando que a Semana Santa pode ser um período de reflexão, não apenas religiosa, mas também social, convidando à reinterpretação dos desafios sociais, econômicos e políticos da atualidade.
Com informações da Agência Brasil.