A metamorfose é a peça-chave na carreira de um ator. Transmitir, com sutileza, os sentimentos vividos pelos personagens encenados é o que permite a conexão com o público. O ator baiano Amaurih Oliveira atinge essa linha tênue em Polacas, filme que narra a história de exploração sexual sofrida por mulheres polonesas que aportaram no Brasil fugindo das mazelas da Primeira Guerra Mundial. Dirigido por João Jardim e ambientado no Rio de Janeiro, o longa estreia nesta quinta-feira (12) em todo o Brasil.
O ator interpreta Isaac, um dos subordinados de Tzvi (Caco Ciocler), chefe do bordel no qual Rebeca (Valentina Herszage) é violentada. Isaac, um homem negro, também marginalizado, se vê dividido entre o desejo de ajudar Rebeca, estrangeira e vítima de exploração sexual, e a obrigação de cumprir as ordens do chefe. “No momento em que ele (Isaac) aceita o trabalho no bordel, ele aceita fazer parte da organização criminosa. Mas, por ser um homem negro, o Isaac tem uma sensibilidade diferente. Ele está sempre numa dualidade do que fazer, do como fazer, porque ele também é uma vítima daquele sistema. Ele não tinha muito para onde fugir, dadas as circunstâncias”, conta Oliveira em entrevista ao site.
Na história, Rebeca chega ao Rio de Janeiro com seu filho Yossef (Rafael Fuchs) em busca do marido, que já havia falecido, acabando refém de uma rede de prostituição. O longa se passa em 1917, menos de 30 anos após a Abolição da Escravatura. “Em que local um homem negro estava naquela época, para decidir se era bom ou ruim? A própria sociedade já o colocava como ruim. Então, é uma situação muito complexa, porque o Isaac vive numa prisão: ele precisava desempenhar o seu papel no bordel”, pontua o ator.
Para Oliveira, o filme ocupa um lugar de questionamento. “O que eu mais espero é que histórias como essa tragam a reflexão do que não podemos fazer. Polacas é um filme pesado, denso, que registra um período da nossa história que devemos lembrar por isso: para que tenhamos esse olhar para o futuro em um lugar de expansão, de melhora.” Gravado no Rio de Janeiro em 2022, o longa estreou no Festival do Rio no ano passado e tem produção de Iafa Britz.
Nascido em Ilhéus e formado em Artes Cênicas pela Universidade Federal da Bahia, Amaurih Oliveira, que também protagonizou Irmã Dulce (2014), teve um ano intenso entre o teatro, a gravação de outro longa e a próxima novela/série do GloboPlay, Guerreiros do Sol, que estreia em 2025. A obra, escrita por George Moura e Sergio Goldenberg, será protagonizada por Isadora Cruz e Thomás Aquino, que interpretam o casal Rosa e Josué, com estreia prevista para abril de 2025.
“É um projeto em homenagem aos 60 anos da Rede Globo, inspirado livremente em Lampião e Maria Bonita. Tivemos filmagens no Rio, em Aracaju e em Alagoas. Meu personagem é um dos capatazes do personagem vivido por Irandhir Santos, numa época que marca os últimos tempos do reinado do cangaço. A série/novela será dividida em quatro temporadas, e eu apareço na última”, revelou o ator.