Não é recente a participação e o impacto do cinema brasileiro nas discussões mundiais sobre a sétima arte. Os caminhos abertos por “O Pagador de Promessas” (1962), de Anselmo Duarte, único filme brasileiro a ganhar a Palma de Ouro em Cannes, continuam a ser trilhados por produções como “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles, indicação nacional ao Oscar 2025, e também “Retratos Fantasmas”, de Kleber Mendonça Filho, recentemente eleito um dos melhores filmes do ano pelo jornal americano The New York Times.
Lançado em 2023, o sucessor de Bacurau só entrou em cartaz nos cinemas dos Estados Unidos este ano. “Retratos Fantasmas” foi considerado pelo NYT o 6º melhor filme do ano, ao lado de produções como “Tudo Que Imaginamos Como Luz”, de Payal Kapadia, e “Dahomey”, de Mati Diop. A produção é um retrato da transformação urbana e cultural do centro do Recife por meio da relação íntima entre o diretor e a cidade com antigas salas de cinema de rua. O filme/documentário consegue, com imagens de arquivo, fotografias e memórias pessoais, refletir sobre a importância desses espaços no século XX e como eles desapareceram com o tempo.
“Aqui, Mendonça Filho usa o apartamento como um ponto de eixo para uma investigação que se irradia em diferentes direções — para seu passado e o de sua mãe, para antigos sets de filmagem e por cinemas abandonados — mas sempre retorna para casa”, diz a publicação.
À Revista Exame, o diretor pernambucano falou sobre a dificuldade de encaixar Retratos Fantasmas, considerado pelo NYT como um documentário, em um único gênero. “Eu adoro ser escorregadio no sentido de alguém ter uma dificuldade, sabe? Se questionar: ‘qual é a caixa onde eu coloco esse filme?’. Eu nunca pensei nele como documentário, por exemplo, embora eu suspeitasse que talvez a caixinha mais próxima seria a desse gênero. Mas eu gosto muito de ter uma sequência de ficção, que acontece ao final do filme, e essa parte de arquivo também. Em geral, eu tenho um certo prazer de ver o filme nesse cenário mais escorregadio”.
Já “Ainda Estou Aqui”, que foi indicado ao Globo de Ouro como Melhor Filme de Língua Estrangeira, tem visto um cenário de 25 anos atrás se repetir. Em 1999, Salles experimentou a mesma campanha de sucesso com Central do Brasil, estrelado por Fernanda Montenegro, que agora vê a filha, Fernanda Torres, seguir seus passos no cinema internacional. Assim como a mãe, Torres também concorre ao prêmio de Melhor Atriz em Filme de Drama no Globo de Ouro.
O filme foi a aposta da Academia Brasileira de Cinema como representante do Brasil na categoria de Melhor Filme Internacional no Oscar de 2025. Inspirado no livro biográfico de Marcelo Rubens Paiva, que narra a história de uma família brasileira assombrada pelos horrores da ditadura militar no Brasil, a produção tem sido destaque internacionalmente, sendo ovacionada com dez minutos de aplausos no Festival de Veneza.