A Revolta dos Malês, um dos mais emblemáticos levantes de escravizados no Brasil, ganha nova dimensão com o filme Malês, dirigido pelo baiano Antonio Pitanga. A produção, exibida em pré-estreia na Mostra de Cinema de Tiradentes, resgata a história do movimento de resistência ocorrido em Salvador, em 1835, e já tem presença confirmada no Festival Pan-Africano de Cinema, em Burkina Faso, no final de fevereiro.
Com estreia nos cinemas marcada para 10 de abril, o longa transcende a tradicional distribuição comercial. Pitanga quer garantir que a obra chegue às escolas, quilombos e universidades, promovendo uma reflexão ampla sobre o episódio histórico. “O meu sonho agora é ir para a banca dos saberes”, afirma o cineasta.
Além de retratar o levante, o filme investe na construção da individualidade dos personagens, fugindo da visão estereotipada do escravizado como vítima passiva. Com um elenco majoritariamente negro, incluindo Rocco e Camila Pitanga, Malês busca evidenciar a inteligência e a articulação dos insurgentes, muitos deles muçulmanos que dominavam a escrita árabe e tinham alto nível de instrução.
A caracterização e o figurino foram fruto de extensa pesquisa, e os atores passaram por aulas de árabe para as cenas em que o idioma é utilizado. O livro Rebelião Escrava no Brasil, do historiador João José dos Reis, foi a principal referência para a produção.
Pitanga destaca o crescimento de produções brasileiras com representatividade negra, citando também Kasa Branca, de Luciano Vidigal, que estreia nesta semana. Seu filho, Rocco Pitanga, celebra essa mudança e relembra o passado da indústria audiovisual no país: “Antes, quando eu encontrava um colega negro em um teste, já sabia que só um de nós seria escolhido. Agora, vemos filmes que exploram as jornadas e os sonhos de cada personagem”. Para o diretor, a ascensão dessas narrativas é essencial para ampliar as perspectivas sobre a população negra na história e no cinema nacional.
O cineasta também traça paralelos entre a trajetória de Malês e a indicação de Ainda Estou Aqui ao Oscar. Enquanto a produção de Walter Salles contou com uma estratégia de visibilidade internacional, Pitanga aposta na circulação do seu filme pelos espaços de saber, em especial instituições educacionais.
Além do longa-metragem, Malês terá uma versão em formato de minissérie para a TV, coproduzida pela Globo, ainda sem data de estreia. (Com informações da Agência Brasil).
Foto: Antonio Pitanga (de boina, ao centro) dirige Rodrigo de Odé e Bukassa Kabengele em Malês (Crédito: Vantoen Pereira Jr./Divulgação)